segunda-feira, 3 de junho de 2013

História do Orixá Obaluaê – entre lendas, misticismo e realidade.



Começaremos contando as lendas referentes ao nascimento deste Orixá:


Filho de Nanã, Yemanjá e Oxalá

Em uma das lendas, é contado que Oxalá era casado com Yemanjá, mas que uma vez, embebedado por Nanã, que por ele era apaixonada, e sabedora da preferência de Oxalá por vinho de palma se aproveitou deste episódio para deitar-se com Oxalá.
Desta união nasceu Obaluaê... sendo Nanã perfeccionista, amante da beleza, e um orixá que abomina tudo que seja feio, foi surpreendida ao dar a luz a um filho coberto de chagas.
Conta-se nessa lenda, que as chagas de Obaluaê vieram para castigar Nanã, que abandonou o filho em uma cesta de palha, na areia da praia/beira do mar.
Yemanjá, escutando o choro, aproximou-se do local, quando viu então, Obaluaê pela primeira vez.
Neste momento,  recolheu-o e passou a cuidar dele. Deste dia em diante, Yemanjá passou a ser mãe de Obaluaê, tratando de suas feridas.

Pequena variação da lenda acima:

Filho de Oxalá e Nanã, nasceu com chagas, uma doença de pele que fedia e causava medo aos outros, sua mãe Nanã morria de medo da varíola, que já havia matado muita gente no mundo. Por esse motivo Nanã, o abandonou na beira do mar. Ao sair em seu passeio pelas areias que cercavam o seu reino, Yemanjá encontrou um cesto contendo uma criança. Reconhecendo-a como sendo filho de Nanã, pegou-a em seus braços e a criou como seu filho em seus seios lacrimosos. O tempo foi passando e a criança cresceu e tornou um grande guerreiro, feiticeiro e caçador. Se cobria com palha da costa, não para esconder as chagas com a qual nasceu, e sim porque seu corpo brilhava como a luz do sol. Um dia Yemanjá chamou Nanã e apresentou-a a seu filho Obaluaê, dizendo:  Obaluaê, meu filho receba Nanã sua mãe de sangue. Nanã, este é Obaluaê nosso filho. E assim Nanã foi perdoada por Obaluaê e este passou a conviver com suas duas mães.


Lendas de diversas nações do Candomblé

Iansã transforma as chagas de Obaluaê em pipocas


Chegando de viagem à aldeia onde nascera. Obaluaê viu que estava acontecendo uma festa com a presença de todos os orixás. Obaluaê não podia entrar na festa, devido à sua medonha aparência. Então ficou espreitando pelas frestas do terreiro. Ogum, ao perceber a angústia do orixá, cobriu-o com uma roupa de palha que ocultava sua cabeça e convidou-o a entrar e aproveitar a alegria dos festejos. Apesar de envergonhado, Obaluaê entrou, mas ninguém se aproximava dele. Iansã tudo acompanhava com o rabo de olho. Ela compreendia a triste situação de Obaluaê e dele se compadecia. Iansã esperou que ele estivesse bem no centro do barracão. O xirê estava animado. Os orixás dançavam alegremente com suas equedes. Iansã chegou então bem perto dele e soprou suas roupas de mariô, levantando as palhas que cobriam suas pestilência. Nesse momento de encanto e ventania, as feridas de Obaluaê pularam para o alto, transformadas numa chuva de pipocas, que se espalharam brancas pelo barracão. Obaluaê, o Deus da Doença, transformou-se num jovem, num jovem belo e encantador. Obaluaê e Iansã tornaram-se grandes amigos e reinaram juntos sobre o mundo dos espíritos  partilhando o poder único de abrir e interromper as demandas dos mortos sobre os homens.



Xapanã, rei de Nupê.

Xapanã, originário de Tapa, leva seus guerreiros para uma expedição aos quatro cantos da terra. Uma pessoa ferida por suas flechas ficava cega, surda ou manca, Obaluaê-Xapanã chega ao território de Mahi no norte de Daomé, matando e dizimando todos os seus inimigos e começa a destruir tudo o que encontra a sua frente. Os Mahis foram consultar um Babalaô e o mesmo ensinou-os como fazer para acalmar Xapanã. O Babalaô diz que estes deveriam tratá-lo com pipocas, que isso iria tranquiliza-lo, e foi o que aconteceu. Xapanã tornou-se dócil.  Xapanã contente com as atenções recebidas mandou construir um palácio onde foi viver e não mais voltou ao país Empê. O Mahi prosperou e tudo se acalmou.

Obaluaê desobedece Nanã e é castigado com a varíola


Obaluaê era um menino muito desobediente.
Um dia, ele estava brincando perto de um lindo jardim repleto de pequenas flores brancas.
Nanã lhe havia dito que ele não deveria pisar as flores,mas Obaluaê desobedeceu à sua mãe e pisou as flores de propósito.
Ela não disse nada, mas quando Obaluaê deu-se conta estava ficando com o corpo todo coberto por pequeninas flores brancas, que foram se transformando em pústulas, bolhas horríveis.
Obaluaê ficou com muito medo. Gritava pedindo à Nanã que o livrasse daquela peste, a varíola.
Nanã disse então a  Obaluaê  que aquilo acontecera como castigo porque ele havia sido desobediente, mas ela iria ajudá-lo.
Ela pegou um punhado de pipocas e jogou no corpo dele e, como por encanto, as feridas foram desaparecendo.
Obaluaê saiu do jardim tão bom como quando havia entrado.



São encontradas várias lendas sobre este orixá, nelas, encontramos ligações com vários orixás, como Ogum – onde podemos perceber a ajuda deste com seu coração bondoso, que ajuda Obaluaê a usar a roupa de palha da costa, o mariô, para cobrir suas chagas ou seu brilho.
Iansã – Está é tida como sua grande amiga, com quem Obaluaê divide poderes sobre a morte, visto a ligação de Iansã Igbalé com os mortos.
Nanã, sua mãe de sangue. Oxumare, Iroko, Ewá são tidos muitas vezes como seus irmãos, filhos de Nanã e Oxalá, em algumas lendas, um pouco mais raras de se encontrar, vemos ligação deste com Ossain, visto que Obaluaê é um grande feiticeiro.
Por ser feiticeiro vemos ligação também com Logun Edé, que também é um grande feiticeiro, em outras lendas, vemos que Oxossi, ao ser ferido por abelhas, juntamente com seu filho Logun, clamou por ajuda para seu filho, Logun, foi quando apareceu Obaluaê, que curou Logun das picadas de abelha, deste dia em diante, estabeleceu-se uma forte amizade entre Logun e Obaluaê.
Vem sido discutidas a veracidade de lendas que apontam que Obaluaê seria casado com Ewá, levando em consideração de que esta é tida como virgem e irmã de Obaluaê, sendo todavia importante lembrar, que no Candomblé, não existe a concepção de pecado e que portanto, não seria considerado incesto como pecado, diante da possibilidade desta relação.
Como podemos perceber, várias são as ligações de Obaluaê com os demais orixás.
Numerosas são suas lendas, que retratam sempre a luz deste orixá. Em algumas poucas, vemos relatos de sua ira, seu ciúme, tidos como características de seus filhos em um determinado período de vida, porém, falaremos sobre isso, sobre os arquétipos dos filhos de Obaluaê, na semana que vem! Não percam!

Atotô Ajberu!

''Que eu partilhe o que é verdade
Não fique com o que me ilude
Que eu cuide dos meus alunos
Me dê forças pre ensinar
Salve Obaluaê''

( Salve Obaluaê - música de Mestre Toni Vargas)












Nenhum comentário:

Postar um comentário